Atribui-se a Lênin a frase “política ora é ciência, ora é arte”.
Embora sem mencionar o dito leninista, Antônio Augusto de Queiroz
(Toninho), diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar), aponta o que pode parecer surpreendente no atual processo
político.
Ele diz: “O fim da era Cunha e a consolidação do poder
de Rodrigo Maia na Câmara abrem espaço para o avanço da pauta
fiscalista, de cunho neoliberal”.
Toninho detalha seu
entendimento: “Durante bom tempo, Cunha comandou um destacamento forte
na Câmara. Sua derrocada vem representar também o esboroamento desse
Centrão, que era amplo, atrasado, mas não tinha um claro componente
classista. Maia, não. Ele tem doutrina, é conservador”.
Para o
dirigente do Diap, a hegemonia na Câmara passa a ser claramente
conservadora e classista. “Maia não é dado a manobras e espertezas.
Tende a seguir os ritos, sem atropelos, até porque ele, dada a
correlação de forças, sabe qual será o resultado final”.
Antônio Augusto de Queiroz não atribui ao governo a decisão de lavada
(450 a 10) pró-cassação de Cunha. “Ele já não liderava o antigo
Centrão. E vinha manobrando para tentar se segurar”, avalia. O voto
esmagador pela cassação do ex-presidente – “que manobrou, mentiu e
cometeu crime” – é mais resultado da pressão vinda da opinião pública.
Cenário -
Para Toninho do Diap, o governo Temer deverá apressar as reformas
conservadoras próprias da agenda fiscalista. Os caminhos, ele aponta,
serão acelerar a votação do congelamento dos gastos públicos e turbinar a
Reforma da Previdência. Ele avalia que “o governo tende a queimar
energias nessas duas demandas, que exigem aprovação por 3/5 da Casa,
deixando a Reforma Trabalhista para um próximo momento”. Na Câmara, para
as primeiras reformas, seriam necessários 308 votos; no Senado, 49.
Discurso -
O campo sindical e popular terá de refinar a articulação junto ao
Congresso. Toninho alerta: “Observe que o novo campo hegemônico na
Câmara tem mais base doutrinária e compromisso classista, ou seja,
identidade com a pauta fiscalista do governo”. Ele avalia, ainda, que é
preciso haver clareza no discurso para os trabalhadores e a sociedade.
“Não basta ser contra as reformas. É importante decifrar cada reforma,
mostrando que embutem perdas, empobrecimento e transferência de renda
dos mais pobres para os mais ricos”.
Fonte: Agência Sindical
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