Pela quinta vez em sete dias, a avenida Paulista foi palco de mais uma manifestação contra o governo de Michel Temer,
pontuados por críticas ao presidente recém-empossado, pedidos de novas
eleições e marcados, na semana anterior, quando transcorreu o processo de impeachment de Dilma Rousseff pelo Senado Federal, por pesada repressão da Polícia Militar na capital paulistana.
O ato de domingo 4, convocado pelas redes sociais e organizado,entre
outros, pela Frente Povo Sem Medo e Brasil Popular, que reúnem juntas 90
grupos, com a adesão de centrais sindicais, movimentos sem teto e de
entidades estudantis, iniciou-se pacificamente e reuniu 100 mil
manifestantes, de acordo com estimativas dos organizadores.
Logo após o anúncio de encerramento do ato pelos organizadores,
a Polícia Militar jogou muitas bombas de gás e de pimenta e utilizou
jatos de água contra os manifestantes, causando correria. A manifestação partiu do vão do Masp rumo ao Largo da Batata, na zona oeste da capital.
Durante todo o ato, a tropa de choque da PM esteve posicionada na
avenida Paulista e depois acompanhou o protesto até seu destino final.
"Em manifestação inicialmente pacífica, vândalos atuam e obrigam PM a
intervir com uso moderado da força /munição química", declarou o perfil
oficial no Twitter da Polícia Militar de São Paulo.
Os milhares de manifestantes concentraram-se em frente ao Masp entre
16h e 18h20, quando a via começou a ser fechada novamente para
pedestres, e começaram a se dirigir para o Largo da Batata, seguindo
pela avenida Rebouças. A frente do ato chegou ao local de destino por
volta das 19h30 e o protesto foi declarado encerrado uma hora depois.
Na quinta-feira 2, o governo de Geraldo Alckmin anunciou, por meio da
Secretaria de Segurança Pública, a proibição de manifestações no
domingo 4 na avenida Paulista. Em nota, o motivo alegado foi a passagem
da tocha paraolímpica.
Após mediação entre a Secretaria de Segurança Pública e
representantes dos organizadores da manifestações, feita pela
Prefeitura, a via foi liberada para o ato, contrário a Michel Temer e
com pedidos de novas eleições, depois que os organizadores "atenderam ao
apelo para iniciar a concentração a partir das 16:30, preservando, com
segurança, a passagem da tocha paralímpica e garantindo o direito
democrático de livre manifestação", declarou o prefeito Fernando Haddad
por meio do seu perfil oficial no Facebook.
Na sexta-feira 3, Michel Temer disse que as manifestações são
"grupos pequenos e depredadores" e declarou que os atos não comprometiam
o início de seu governo porque são promovidos por "40 pessoas que
quebram carro". Nas contas dos organizadores, cerca de 100 mil pessoas
manifestaram-se com pedidos de "diretas já" e "fora Temer".
De acordo com pesquisa Ibope divulgada neste sábado 3, 41% dos
paulistanos consideram o governo Michel Temer "ruim ou péssimo", 36%
classificam como regular e 13% "ótimo/bom". Nas demais capitais, a
aprovação positiva do peemedebista oscilou entre 8 e 19%, enquanto que a
desaprovação foi de 31 a 53% dos entrevistados.
Repressão policial
Nos atos ocorridos em São Paulo na semana do impeachment, a Polícia
Militar seguiu um roteiro quase sempre igual, como reportou a Ponte
Jornalismo. Nas manifestações da capital paulista na segunda-feira 29, a
PM impediu a passagem dos participantes alegando que não havia sido
informada do trajeto, após o primeiro disparo de uma bomba de efeito
moral, houve uso de gás lacrimogêneo, tiros de bala de borracha e os
caminhões da Tropa de Choque municiados de jatos d’ água.
Na terça 30, a manifestação na Avenida Paulista saiu do Masp e seguiu
até a Praça Roosevelt. Após decisão da marcha de seguir até o jornal
Folha de S.Paulo, o ato foi impedido de continuar e, na sequência,
novamente houve repressão no centro da cidade.
Na quarta 31, em um ato mais expressivo, estimado em 10 mil
participantes, a manifestação partiu do Masp e chegou até Consolação.
Após alguns manifestantes tentarem bloquear a passagem dos carros nos
dois lados da via, policiais novamente realizaram manobras de cercamento
e dispersão dos participantes do protesto.
Durante o ato, alguns manifestantes colocaram fogo em sacos de lixo
nas vias, de forma a impedir o avanço da PM e também houve atos de
depredação. Manifestantes publicaram nas redes sociais fotos e vídeos de
pessoas correndo e houve relatos de feridos. Um dos casos mais graves
foi o da estudante Débora Fabri, 20 anos, que perdeu a visão do olho
esquerdo após ser atingida estilhaços de bombas lançadas por policiais
militares durante o ato. Trata-se do terceiro caso desde 2013 em que
manifestantes ou profissionais da imprensa ficam cegos durante a
repressão da Polícia Militar a protestos em São Paulo.
Fonte: Carta Capital
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