Breve apresentação
Iniciamos uma nova experiência comunitária de comunicação virtual, através deste blog.
Nosso propósito é contribuir com idéias, críticas e proposições sobre os mais variados temas, privilegiando análises comprometidas com uma visão transformadora da realidade social, sobretudo a partir dos mundos do trabalho, da cultura e da ciência.
Esperamos contar com a participação de amig@s e colaborador@s.
Tal como referiu o poeta Carlos Drummond de Andrade "lutar com a palavra é a luta mais vã/entanto lutamos/mal rompe a manhã".
Quanto à nossa participação, para além das palavras, queremos reafirmar nosso compromisso com as justas e necessárias lutas sociais que buscam a emancipação humana de todas as formas de exploração, discriminação e opressão.
CONFERÊNCIA DAS CIDADES - ALEGRETE/2013
Nos dias 24 e 25 de maio de 2013, participamos da etapa municipal da V Conferência das Cidades.
Na oportunidade, apresentamos dois textos, abaixo transcritos, através dos quais expressamos alguns pontos sobre a nossa visão de cidade.
" são espaço urbano
também os ambientes das casas particulares; e o retábulo do altar
da igreja, a decoração do quarto de dormir ou da sala de jantar,
até mesmo o vestuário e o ornamento com que as pessoas se movem,
recitam a sua parte na dimensão cênica da cidade. Também são
espaço urbano, e não menos visual para ser mnemônico-imaginário,
as extensões da influência da cidade além de suas muralhas: a zona
rural de onde chegam as provisões ao mercado da praça e onde o
camponês tem as suas vilas e as suas propriedades, os bosques onde
vai caçar, o lago ou os rios onde vai pescar. O espaço figurativo,
(...) não é feito apenos daquilo que se vê, mas de infinitas
coisas que se sabem e se lembram, de notícias. Até mesmo quando um
pintor pinta uma paisagem natural, pinta na realidade um espaço
complementar do próprio espaço urbano". Giulio
Carlo Argan, em História da arte como história da cidade
O
Alegrete, uma Cidade Rururbana
O
conflito
de
interpretação
entre
urbano
e
rural
– zonas
espaciais
em
constantes
confluências
e
o
desenvolvimento
Por Carlos Roberto Allende
Ms. Engenheiro-Agrônomo
Por Carlos Roberto Allende
Ms. Engenheiro-Agrônomo
A
cidade
de
Alegrete
é
um
espaço
territorial
a
ser
analisado
de
maneira
diferente
das
análises
tradicionais,
principalmente
das
análises
focadas
nas
formulações
do
desenvolvimento
verticalizado
pelas
esferas
governamentais.
Na
sua
evolução
histórica,
a
cidade
constituiu
uma
ocupação
urbana
mesclada
com
a
produção
primária
rural
em
sua
configuração
espacial.
No
entorno
da
cidade
ainda
é
possível
observar
uma
paisagem
de
campos
e
planícies
com
habitações
entremeadas,
formando
bairros
urbanos
que
se
confundem
com
características
rurais.
Configuram
uma
faixa
marginal
com
população
peri-urbana
convivendo
ainda
com
os
aspectos
do
ambiente
em
seu
estado
natural.
A
densidade
habitacional
periférica
pode
ser
considerada
abrangente
e
expressiva
para
caracterizar
tipologicamente
as
pessoas
que
residem
nessa
zona
da
cidade
e
também
em
outras
partes
em
direção
aos
espaços
físicos
fundiários
mais
centrais
da
cidade.
Evidencia-se
que
as
características
da
população
denominada
censitariamente
urbana
são
intimamente
ligadas
ou
mescladas
com a população
caracterizada
genericamente
como
rural.
Percebe-se
isso
na
reprodução
dos
hábitos
e
costumes,
na
forma
de
manter
a
cultura,
na
linguagem,
na
maneira
de
manifestar
o
sentimento
de
pertencimento
ao
território,
diluído
entre
os
aspectos
lúdicos,
condicionados
pela
espacialização
da
ocupação
histórica
e
do
patrimônio
cultural.
As
zonas
consideradas
urbano/rurais
(outro
lado
da
ponte
-
zona
sul,
zona
norte)
e
entorno
da
BR
290
entre
outras
áreas1
que
ficam
a
margem
do
núcleo
central
da
cidade
foram
constituídos
em
sua
maioria
de
maneira
desordenada,
ou
seja,
sem
planejamento
estrutural
com
vistas
à
qualidade
de
vida
e
satisfação
das
necessidades
essenciais
à
sociabilidade
e
ao
convívio
humano
de
maneira
organizada
no
mesmo
espaço
geográfico.
Habitam
essas
áreas
uma
parcela
da
população
que
ora
reside
no
espaço
rural,
ora
reside
no
espaço
urbano.
Na
sua
maioria
são
pessoas
com
relações
de
trabalho
tanto
no
espaço
urbano
e
rural.
Muitos
são
oriundos
do
êxodo
rural,
em
alguns
períodos
desempregados
e
à espera
de
oportunidades
na
inclusão
como
“cidadãos”
produtivos.
Esse
contingente
de
trabalhadores
é
expressivo
na
dinâmica
de
prestação
de
serviços
formais
e
informais
que
inclui
o
vínculo
com
a
construção
civil,
os
serviços
assalariados
ou
sazonais
nas
atividades
agropecuárias
dos
estabelecimentos
patronais
(atividades
de
produção
arroz
e
pecuária
extensiva)
como
peões,
e
na
produção
de
alimentos
em
pequenas
unidades
de
produção
familiar.
Dessa
maneira,
assumem
a
condição
de
uma
população
flutuante
no
espaço
geográfico,
principalmente,
relacionado
aos
períodos
de
maior
à
oferta
de
serviços
e
ocupações
produtivas
no
rural
ou
no
urbano.
Tal
contingente
corresponde
a
uma
fatia
social
expressiva
da
sociedade
alegretense,
que coabita
no
rural
e
no urbano,
confundindo
os
dados
censitários
tradicionais
ao
fixarem
a
população
numericamente
em
um
determinado
espaço
geográfico.
Também
estabelecem
residência
concomitante
no
rural
e
urbano
e
colaboram
nessa
confluência
demográfica
os
proprietários
de
estabelecimentos
rurais
com
grandes
dimensões
físicas
que
conservam
a
estrutura
fundiária
concentrada
no
espaço
rural
e
reproduzem
o
modelo
insustentável
da
produção
da
monocultura
extensiva,
denominada
de
agronegócio.
A
dinâmica
da
cidade
de
Alegrete,
em
suas
diversas
dimensões,mantém
uma
estreita
relação
de
complementaridade
entre
a
cidade
e
o
espaço
rural.
São
visíveis
nas
zonas
peri-urbana
as
atividades
rurais,
com
áreas
cultivadas
com
algumas
hortaliças
para
consumo
doméstico,
pequenas
criações
(galinhas,
patos,
angolistas,
suínos),
produção
de
pecuária
de
corte
e
leite/leitarias
(no
cabresto
ou
soltos
em
áreas
com
menor
densidade
habitacional).
Assim,
convivem
cotidianamente,
lado
a
lado,
áreas
de
produção
rural
para
subsistência
e
para
comércio,
sítios
de
lazer,
escolas,
pequenos
comércios
(mercadinhos,
armazéns,
bolichos,
lojinhas),
imóveis
ligados
à
tradição
(CTG,
DTG,
GT...)
e
núcleos
habitacionais
tipicamente
urbanos.
Com
qualidade
em
poucas
construções
e
significativa
presença
de
habitações
em
condições
precárias
que
“refletem”
a
pobreza
de parte
significativa
da
população.
Tais
especificidades
e
particularidades
abordadas
caracterizam
os
alegretenses
na
sua
maioria
como
pessoas
rururbanas
e
isso
não
pode
ser
ignorado
no
planejamento
do
desenvolvimento
da
população
e
da
cidade.
Omitir
a
tipologia
social
da
população
consiste
em
negar
as
“raízes
sociais”
e
confundir
a
origem
dos
problemas
vivenciados,
cognitivos
da
espacialização.
Tal situação dificulta a busca de soluções
concretas,
adotando-se
alternativas
paliativas
nas
formulações
e nas
intervenções
governamentais.
Mas
além
de
renovar
a
interpretação
da
tipologia
dos
habitantes
devemos
aprofundar
a
análise
do processo de urbanização,
a
espacialização
empreendida
pelas
etnias
da
classe
dominante
e
consolidada
através
do
formato
tecnológico
da
matriz
de
produção
predominante
(pecuária
e
arroz
aprimorada
para
funcionar
economicamente
em
prol
dos
complexos
agroindustriais).
Sobre
essa
espacialização
preservada
pelos
rururbanos
alegretenses
permeiam
as
condições
vivenciadas
pela
urbanização
da
cidade
de
Alegrete.
O
arranjo
físico/estrutural
da
cidade
e
sua
dinâmica
econômica
concentradora
das
riquezas
não
viabilizam
as
condições
desejadas
para
satisfazer
em
grande
parte
as
necessidades
básicas
da
população
urbana
e
rural,
acentuando
gradativamente
a
estagnação
do
desenvolvimento
político,
humano,
social,
econômico,
cultural
e
etc.,
principalmente,
da
população
mais
vulnerável
e
periférica
socialmente.
Essa
influência
direta
do
modelo
de
produção
exercido
pela
classe
social
autodenominada
de
“elite”
agrária
alegretense
não
pode
ser
desconsiderada
em
quaisquer
debates
ou
proposições
para
qualificar
a
urbanização
da
cidade
de
Alegrete.
Isso
é
consenso
da
maioria,
basta
assumirmos
uma
posição
sem
medo
de
construir,
com
protagonismo,
novos
indicadores
para o
desenvolvimento
local.
As
prioridades
políticas
das
demandas
para
melhorar
as
condições
das
cidades
e
aglomerados
urbanos
devem
considerar
as
especificidades
locais
e
regionais
para
construir
formulações
objetivas
e
concretas
ao
desenvolvimento
rural/urbano,
principalmente,
nas
regiões
deprimidas
economicamente,
consideradas
atrasadas
no
país,
como
é
o
caso
da
Fronteira
Oeste
do
RS,
dentro da qual
está
a
cidade
( e o município) de
Alegrete.
COMISSÃO EXECUTIVA
MUNICIPAL – PCdoB/ALEGRETE
1
Vila
Brasília,
Vila
Piola,
Capão
do
Angico
e
adjacências
em
geral,
Vila
Nova,
Canudos,
Restinga,
Regalado
e
demais
aglomerados.
POR
UMA REFORMA URBANA DEMOCRÁTICA
Gilmar de Lima Martins
Saudamos
a realização da etapa municipal desta 5ª Conferência Nacional das
Cidades.
No
caso de nosso município, que os debates e resoluções impulsionem
conquistas reais para toda a população, especialmente para aqueles
e aquelas que mais necessitam de mudanças nas suas condições de
vida, com ênfase nas três prioridades definidas em caráter
preliminar: habitação (regularização fundiária),
mobilidade urbana (transporte) e saneamento básico.
O
Partido Comunista do Brasil – por sua Comissão Municipal
Provisória em Alegrete – entende que a reforma urbana é uma das
medidas fundamentais para consolidar o processo de democratização
do país, com distribuição de renda mais justa e redução das
desigualdades sociais e regionais, de modo a garantir condições
dignas de moradia, transporte, saúde, saneamento, cultura e lazer
para milhões de brasileiros e brasileiras.
Considera
importante a definição dos eixos temáticos apresentados e as
propostas sugeridas, destacadamente a institucionalização do
Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano (SNDU), e do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Urbano, embora ressalte que abordagem
apresentada peca pelo excessivo centralismo na definição
das diretrizes, a partir do Governo Central, pelo questionamento
superficial do modelo capitalista de ocupação, produção e
reprodução do espaço urbano – o maior responsável pelo tipo de
urbanização que temos no país – pelo completo silêncio ao
modelo tributário vigente, responsável pela situação crítica das
finanças dos municípios, extremamente dependentes de frequentes
pedidos de socorro à União e, por último, mas não menos
importante, pela ausência a quaisquer referências, nos textos, da
questão da memória, do patrimônio e da cultura.
No
plano local, território privilegiado de nossa intervenção política
e social, nosso entendimento é que a cidade de Alegrete, a par de
seu alto índice de urbanização, a considerar-se o critério
exclusivamente demográfico de ocupação do espaço urbano, tem
características peculiares que precisam ser avaliadas, com critério,
para o sucesso de medidas de reforma.
Neste particular, cumpre destacar o caráter rururbano de parte
considerável de sua população, sobretudo da periferia, cujas
atividades econômicas e laborais, dependem ou são condicionadas,
regular ou sazonalmente, pelo padrão hegemônico de exploração
agropecuária.
Além do mais, é preciso reafirmar que este processo de urbanização
decorreu do contínuo e impetuoso processo de expulsão de milhares
de famílias do meio rural, sobretudo vinculadas à pequena
propriedade, ou de trabalhadores agregados à produção nas
estâncias ou na própria lavoura de arroz.
De outra sorte, é preciso compreender que a cidade ainda não
ofereceu reais alternativas de integração dessa população, pois a
oferta de postos de trabalho ou de ocupação produtiva continua
muito aquém das necessidades. Não por acaso, nosso município foi
um dos que mais sofreu perda de população entre os censo de 2000 e
2010, reduzindo de 84.338 para 77.653 habitantes, isto em números
absolutos, pois se fôssemos considerar a expectativa por conta da
taxa de crescimento demográfico, deveríamos alcançar mais de 87000
habitantes, portanto uma perda de, aproximadamente, 13% da população.
Deve-se registrar, ainda, um outro elemento da estrutura da
população, que reflete uma tendência geral em termos de país e
estado: uma crescente população de idosos, combinado com uma perda
sensível nas faixas mais jovens.
E
tudo isto, em que pese as boas políticas de transferência direta de
renda, que reduziram a pobreza extrema, sem alterar, em profundidade,
a elevada concentração de renda e de propriedade, sobretudo quando
constatado que temos em torno de 6000 famílias no Programa Bolsa
Família. Multiplicados por 3,5 (número médio de pessoas por
família) teremos aproximadamente 21000 pessoas, correspondendo a 27%
da população em estado de pobreza, quando não próximas à
miséria.
Inegavelmente, um dos problemas urbanos mais cruciais de nossa
cidade reside na falta de regularização de grande parte dos
loteamentos existentes, particularmente aqueles derivados de
ocupações de áreas públicas ou privadas.
Concomitantemente, somam-se outras carências, entre as quais se
destaca um sistema de transporte coletivo cuja qualidade deixa muito
a desejar, em face do preço pago pelos usuários. Sem falar na falta
de modelos e vias alternativas, que considerem ciclistas, pedestres,
pessoas com deficiência física, idosos, tais como ciclovias e
calçadas.
No tocante ao saneamento, ao que se noticia e pelas indicações de
obras anunciadas, a cidade será beneficiada com obras nesta frente.
Dito isto, apresentamos algumas propostas para o debate entre os
participantes desta Conferência, a saber:
a)- realização de um Seminário, em conjunto com entidades da
sociedade civil e governamentais, tais como UABA, Sociedade de
Engenharia e Arquitetura, OAB, Urcamp, demais instituições e
entidades afins, para debater REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA e
estabelecer um plano de curto, médio e longo prazos e com metas a
atingir, a partir dos instrumentos legais à disposição, sobretudo
a Lei 10.457/2001, o Estatuto da Cidade. Desde já, sugere-se a
constituição de uma Força-tarefa para iniciar medidas nessa
direção;
b) na mesma linha, mas em momento diferente, a realização de outro
Seminário para debater MOBILIDADE URBANA, em busca de alternativas
democráticas para esta importante questão, tendo em conta as
diretrizes emanadas da Política Nacional definida pela Lei
12.587/2012, tendo em vista a elaboração de um PLANO MUNICIPAL DE
MOBILIDADE URBANA;
c)- formulação de um Plano Municipal de Drenagem Urbana
Sustentável;
c)- definir, no âmbito dos Conselhos Municipais de Cultura e do
Patrimônio Histórico, um amplo programa de ações destinadas à
preservação da memória e do patrimônio histórico, cultural,
paisagístico e outros, de nossa cidade e município, colocando-se
como objetivo, num horizonte próximo, a constituição de uma
Secretaria Municipal de Cultura;
Na expectativa de termos contribuído para o êxito desta etapa
municipal da 5ª Conferência das Cidades, renovamos nosso
compromisso e nossa luta por uma sociedade mais justa, democrática e
socialista.
Comissão Executiva Municipal Provisória do Partido Comunista do
Brasil – PCdoB -
Alegrete, 24/25 de maio de 2013.
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