Virgínia do Rosário
É da história que Laci
Osório extrai o material de seu
trabalho, enquanto poeta. Na elaboração de sua poesia, resguardando as
características da arte literária, Laci Osório dirige seus instrumentos de modo
que seu produto exponha seu compromisso de classe e proponha o possível e o
provável: um mundo livre da exploração do ser humano pelo ser humano.
Assim
é que a poesia de Laci Osório, ao sustentar-se na história, ao comprometer-se
com o coletivo, ao endereçar-se à transformação social, reivindica a
valorização do trabalho humano. Por isso, comparecem à poesia de Laci, por
exemplo, os operários das usinas de carvão, as lavadeiras e os barqueiros que,
no poema Guaíba, como o rio, “artéria de sangue sujo”, recebem a
denúncia do poeta pela exploração sofrida; ou o camponês que “faz química de
suor e sangue/transforma arroz em moeda” para as férias da burguesia rural, na
Europa, como no poema À luz dos cassinos; ou o trabalhador do
saladeiro que com “pés escamados de sal” prepara o “boi banquete/a todos
ricos da espécie/ E na fumaça o arrabalde/ comendo _ em síntese os ossos”, como
no poema Saladeiro em tempo de poema.
Quer
cantando os rios Guaíba ou Ibirapuitã (como nos poemas Guaíba ou O
rio, quer cantando a música (como em A gaita em variações,
Ode ao piano ou Violinos de Paganini, Laci canta,
antes, o trabalho humano na história.
Nos
poemas Esperança, A fábula da torre e São
Miguel das Missões, o poeta enfoca fatos históricos para denunciar a
opressão de que são vítimas os que, com seu trabalho, vêm fazendo,
efetivamente, a história, do mesmo modo que apresenta, por exemplo, nos poemas Isadora
Duncan e Nasceu uma rosa no mapa da América, a vitória
coletiva do trabalho conferida na organização de uma nova sociedade.
Destacamos, a título de ilustração, de Lago de sol:
“Ritmos de fábrica _ as sirenes soam
e
a Internacional orquestra as ruas
bandeiras
de luz acendem consciências
_Um
lago de sol soa no mundo
o
apito rouco do Couraçado Aurora
que
rasgou os mares _ ancorou no pão”.
Cabe
ressaltar também que a grande maioria das poesias de Laci, além de portar, no
bojo da sua sustentação histórica, a valorização do trabalho _ e até por isso
_, traz um reconhecimento especial à mulher e à criança: uma e outra criando e
recriando e recreando a vida, pois que Laci une o trabalho ao ludismo e ao
prazer neste tempo histórico que prevê e para o qual podem servir de exemplo
versos do Poema dos jovens:
“E
seremos
letras que cantam
pela
boca das chaminés
no
som de nossos passos
a
cor de nossas roupas
a
música dançando em nossos nervos
e
o órgão das ruas tocando manhãs.”
Vale
frisar, ainda, que, da mesma maneira como reconhece em seus poemas, entre
outros, poetas como Lorca, Maiakovski, Guillen e José Marti, Laci identifica
que, por ser trabalho, a arte extrapola fronteiras, torna-se universal e, nesta
universalidade, para o tempo histórico anunciado, a paz, junto à presença
permanente da criança na poesia, ganha importância capital. Observe-se isto
nestes versos de Violinos de Paganini:
“Sobre
ondas de violinos
gostaria
de cantar
sentir
cirandas
cirandas
pelas
crianças do mundo
nas
melodias da paz.”
Com
seu trabalho, ao sustentar-se na história, ao fazer arte, Laci, como quer
Lukács, mantém-se fiel ao seu compromisso porque reconhece “constantemente o
efeito extraordinariamente profundo e vasto da literatura sobre a consciência
dos homens”. l
l. LUKÁCS, George. Marx e Engels como
historiadores da Literatura. Porto, Nova Crítica, 1979,
p. 93
Muito legal conhecer e descobrir um pouco esse poeta brasileiro e gaucho alegretense, poeta Virginia do Rosario.
ResponderExcluirLaci, uma referência da juventude de sessenta que tinha ideais revolucionários.
ResponderExcluirPreservo na Biblioteca Comunitária do Canella o livro Música e Semente com uma fraternal dedicatória.
Obrigado, Virgínia pelo excelente texto.