Este,
em síntese, o núcleo da proposta a partir da qual da qual o
professor e historiador alegretense Márcio Sônego, mestre em
história pela PUC-RS, elaborou sua pesquisa e fundamentou sua
dissertação, seja no ambiente acadêmico, seja no programa Centelha
do Pampa, deste domingo, 08 de dezembro, levado ao ar pela Rádio
Sentinela FM.
Programa
há tempos projetado, contou com a participação dos seus
apresentadores Gilmar de Lima Martins, João Auri Garcez e Matico
Vilaverde Coelho.
Inicialmente,
o convidado fez questão de apresentar, brevemente, os três grandes
momentos da hitoriografia brasileira no enfrentamento da temática da
escravidão no Brasil: o primeiro período, segundo ele, representado
pela obra de Gilberto Freyre, expressa em Casa Grande e Senzala, que
oferece uma visão branda daquele processo, propugnando pela
coexistência pacífica e até certo ponto harmônica entre senhor e
escravo, embora tenha tido o mérito de realçar a contribuição do
negro na formação do povo brasileiro.
Para o segundo momento ou fase da história, nos moldes apresentados
pelo entrevistado, sobressaem-se as pesquisas comandadas a partir da
Universidade de São Paulo, sob o patrocínio de Fernando Henrique
Cardoso e outros pensadores, cuja proposta e análise enfatizam o
caráter violento da escravidão e afirmam o negro principalmente
como vítima daquele processo, negligenciando, no seu entender, as
lutas e o protesto mesmo sob as difíceis condições vividas.
Por
último e em terceiro lugar, referiu-se ao surgimento, a partir da
década de 90, especialmente influenciada pela emergência dos
movimentos negros e sua contestação ao 13 de maio e o ato oficial
de abolição da escravatura, cujo centenário ocorrera em 1988, de
uma nova corrente historiográfica, intitulada Nova historiografia
social, cuja análise vai apontar o processo de luta e resistência
dos negros, inclusive, no cotidiano, mediante formas bastante amplas
e complexas, que combinaram o recurso a brechas legais, acordos com
os senhores, utilização de pecúlios em dinheiro, adotadas pelos
negros para a conquista de suas liberdades, antes mesmo de 1888.
Disse
que sua pesquisa partiu de uma constatação: a invisibilidade do
negro na história local e regional, seja no trabalho das pessoas que
se dedicam, ainda que fora dos padrões acadêmicos, a produzir
pesquisa histórica, seja na produção e difusão de livros
didáticos, realidade essa completamente divorciada do vivido e
experimentado nas relações sociais diárias em nosso município e
região.
Desse
paradoxo, a existência e permanência do negro, suas inegáveis
contribuições à formação do povo brasileiro, e a sua
invisibilidade nos registros e pesquisas históricas em âmbito local
e regional, brotou esse trabalho cuja pesquisa envolveu a leitura de
centenas de cartas de alforria, em exaustivo trabalho no Arquivo
Histórico do Rio Grande do Sul, iniciado em 2006 e concluído em
2009.
Durante
o programa, o historiador afirmou que essa visão nova da
historiografia não nega a existência de
violência cometida contra os negros, nem deixa de reconhecer que os
mesmos foram vítimas naquele processo. Todavia, sustenta que tal
visão não é suficiente para compreender a complexidade das
relações estabelecidas e, principalmente, porque tais visões
acabam por negar aos negros o papel de sujeitos históricos, trabalho
que se busca resgatar com essa orientação teórica e metodológica.
Um
ouvinte, senhor José Luiz Fonseca, residente na Vila Airton Sena,
manifestou-se pelo telefone, dizendo que ainda persistem sinais da
exclusão e discriminação em relação aos negros e que isto
precisa ser superado, cumprimentando o programa pelo debate
realizado.
O
programa foi dedicado à memória do líder sul-africano Nelson
Mandela, falecido no último dia 06 de dezembro.
Na
trilha musical, o hino do Congresso Nacional Africano, partido e
movimento que liderou, junto com Mandela, a supressão do regime
racista do Apartheid, na África do Sul, interpretado pelo grupo
musical Batacotô e Sol negro, intepretação de Virgínia Rodrigues
e Milton Nascimento.
As
fotos, sob responsabilidade do camarada Matico Vilaverde, ilustram
momentos dessa nova edição do programa Centelha do Pampa, que se
consolida como um espaço de debates, informais é verdade, mas sem
deixar de fazer abordagens sérias sobre temas da realidade política
e cultural de nosso município e região.
Gratos,
mais uma vez, pela companhia de ouvintes e leitores/as.
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