domingo, 8 de dezembro de 2013

O ESCRAVO COMO SUJEITO HISTÓRICO


Este, em síntese, o núcleo da proposta a partir da qual da qual o professor e historiador alegretense Márcio Sônego, mestre em história pela PUC-RS, elaborou sua pesquisa e fundamentou sua dissertação, seja no ambiente acadêmico, seja no programa Centelha do Pampa, deste domingo, 08 de dezembro, levado ao ar pela Rádio Sentinela FM.
Programa há tempos projetado, contou com a participação dos seus apresentadores Gilmar de Lima Martins, João Auri Garcez e Matico Vilaverde Coelho.
Inicialmente, o convidado fez questão de apresentar, brevemente, os três grandes momentos da hitoriografia brasileira no enfrentamento da temática da escravidão no Brasil: o primeiro período, segundo ele, representado pela obra de Gilberto Freyre, expressa em Casa Grande e Senzala, que oferece uma visão branda daquele processo, propugnando pela coexistência pacífica e até certo ponto harmônica entre senhor e escravo, embora tenha tido o mérito de realçar a contribuição do negro na formação do povo brasileiro.
Para o segundo momento ou fase da história, nos moldes apresentados pelo entrevistado, sobressaem-se as pesquisas comandadas a partir da Universidade de São Paulo, sob o patrocínio de Fernando Henrique Cardoso e outros pensadores, cuja proposta e análise enfatizam o caráter violento da escravidão e afirmam o negro principalmente como vítima daquele processo, negligenciando, no seu entender, as lutas e o protesto mesmo sob as difíceis condições vividas.
Por último e em terceiro lugar, referiu-se ao surgimento, a partir da década de 90, especialmente influenciada pela emergência dos movimentos negros e sua contestação ao 13 de maio e o ato oficial de abolição da escravatura, cujo centenário ocorrera em 1988, de uma nova corrente historiográfica, intitulada Nova historiografia social, cuja análise vai apontar o processo de luta e resistência dos negros, inclusive, no cotidiano, mediante formas bastante amplas e complexas, que combinaram o recurso a brechas legais, acordos com os senhores, utilização de pecúlios em dinheiro, adotadas pelos negros para a conquista de suas liberdades, antes mesmo de 1888.
Disse que sua pesquisa partiu de uma constatação: a invisibilidade do negro na história local e regional, seja no trabalho das pessoas que se dedicam, ainda que fora dos padrões acadêmicos, a produzir pesquisa histórica, seja na produção e difusão de livros didáticos, realidade essa completamente divorciada do vivido e experimentado nas relações sociais diárias em nosso município e região.
Desse paradoxo, a existência e permanência do negro, suas inegáveis contribuições à formação do povo brasileiro, e a sua invisibilidade nos registros e pesquisas históricas em âmbito local e regional, brotou esse trabalho cuja pesquisa envolveu a leitura de centenas de cartas de alforria, em exaustivo trabalho no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, iniciado em 2006 e concluído em 2009.
Durante o programa, o historiador afirmou que essa visão nova da historiografia não nega a existência de violência cometida contra os negros, nem deixa de reconhecer que os mesmos foram vítimas naquele processo. Todavia, sustenta que tal visão não é suficiente para compreender a complexidade das relações estabelecidas e, principalmente, porque tais visões acabam por negar aos negros o papel de sujeitos históricos, trabalho que se busca resgatar com essa orientação teórica e metodológica.
Um ouvinte, senhor José Luiz Fonseca, residente na Vila Airton Sena, manifestou-se pelo telefone, dizendo que ainda persistem sinais da exclusão e discriminação em relação aos negros e que isto precisa ser superado, cumprimentando o programa pelo debate realizado.
O programa foi dedicado à memória do líder sul-africano Nelson Mandela, falecido no último dia 06 de dezembro.
Na trilha musical, o hino do Congresso Nacional Africano, partido e movimento que liderou, junto com Mandela, a supressão do regime racista do Apartheid, na África do Sul, interpretado pelo grupo musical Batacotô e Sol negro, intepretação de Virgínia Rodrigues e Milton Nascimento.
As fotos, sob responsabilidade do camarada Matico Vilaverde, ilustram momentos dessa nova edição do programa Centelha do Pampa, que se consolida como um espaço de debates, informais é verdade, mas sem deixar de fazer abordagens sérias sobre temas da realidade política e cultural de nosso município e região.

Gratos, mais uma vez, pela companhia de ouvintes e leitores/as.







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